O dia em que as coisas mudem

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Só falta amarrar o cordão dos tênis e está pronta, com seu uniforme bem passado e seu cabelo cuidadosamente preso, Soledad está por começar sua terceira jornada de trabalho. Espia pela porta da cozinha e vê o salão completamente lotado, calcula pelo menos umas quinhentas pessoas que tem que têm que ser atendidas pelos seis que atendem às mesas, três mulheres e três homens. Nas manhãs trabalha como costureira em uma lavanderia, os remendos que faz engordam a carteira do dono, a ele lhe paga uma mínima quantidade, mas que lhe serve para…

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Primero de janeiro, um dia a mais

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Compra a galinha na primeira hora da manhã, as verduras com as quais acompanhará o prato e as frutas para o ponche; Catalina quer fazer pamonhas, mas é muito trabalho para ela sozinha e com o cansaço que sai do trabalho, mal tem energia para a limpeza do apartamento onde mora com seus dois filhos, Juan de 12 anos e Guadalupe, de 5. Mas desta vez tem que levar a roupa à lavanderia, no edifício onde vivem não há máquinas de lavar, se atrasará na preparação do ceio de fim de ano.  Catalina…

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Um dia de sol

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Begoña se envolve em um cobertor que pega na poltrona da sala e desce as escadas do edifício, mora no terceiro andar. Liga o carro e volta ao seu apartamento, põe quatro colheradas de café na cafeteira e duas xícaras de água, quando o café está pronto vai banhar-se com água fria para terminar de despertar, o relógio marca as três e quinze da madrugada. É sábado, começo de primavera, no restaurante a esperam às quatro em ponto.  Prende o cabelo ainda molhado em um rabo de cavalo, veste o uniforme correndo, põe…

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O anseio do vendedor

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Liga o ferro e prepara um copo de água para salpicar com os dedos sobre a calça. Fulgencio segue com a tradição de seu avô materno, usa camisas e calças tradicionais, suéter de lã e sapatos tipo mocassino. Sempre com seu lenço de pano bem passado e cuidadosamente dobrado guardado no bolso de atrás da calça. Usa a mesma cinta de couro há quarenta anos.  Já que tem sua muda de roupa pronta vai banhar-se com a água fria do tonel, mas primeiro lava a muda de roupa do dia anterior e a…

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Um dia tranquilo

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Senta-se para descansar um momento, esteve de pé durante 10 horas com dois intermédios de dez minutos para ir ao banheiro e meia hora para almoçar. O clima de novembro é muito frio em Nova York, são dias de pôr três mudas de roupa, com luvas grossas, dois pares de meia e botas de tratorista. Nemesia sempre usa gorro e chapéu para cobrir-se do frio e do sol. O lenço que lhe cobre o rosto o usa o ano inteiro, lhe ajuda um pouco com as queimaduras na pele, no verão por causa…

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O valor das remessas

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Conheceu o salmão em Nova York quando o viu cozido em bandejas na deli do supermercado. Doze dólares o pedaço de meia libra. Doze dólares, perguntou-se o que podia fazer com doze dólares em sua natal Todos Santos Cuchumatán, Huehuetenango, Guatemala; sem dúvida alimentar sua família por pelo menos por três dias.  Em Todos Santos Cuchumatán, Clementino trabalhou desde a adolescência no cemitério, primeiro de ajudante de seu tio onde aprendeu a fazer bicos por aqui e por lá; dias de coveiro, outros de pedreiro, dias de manutenção e dias de pintor de…

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A ferida da ausência

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Se levanta, prepara o café e abre a pequena janela de seu quarto. De golpe entra o ar frio do outono que lhe dói nos ossos, jamais pensou que outubro pudesse ser tão frio, se sua terra natal Cabañas, Zacapa, Guatemala é um forno o ano inteiro.  A Lindomar lhe brota dos poros constantemente a saudade de sua terra e sua família; está cumprindo um ano de sua chegada aos Estados Unidos, a ferida está fresca. Chorou por eles todos os dias com suas noites, nunca imaginou que alguém pudesse chorar tanto de…

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