O retorno de Silverio

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Silverio tinha dois anos quando seu pai emigrou de forma indocumentada para os Estados Unidos, suas irmãs Bartola e Chucita tinham três e quatro. Durante anos só conheceram sua voz quando ele chamava por telefone nos fins de semana e observaram as únicas duas fotografias que sua mãe tinha junto com ele, nenhuma com a família.  Quando a tecnologia chegou à sua natal Lelá Chancó, Camotán, Chiquimula, Guatemala, eles não tinham dinheiro para comprar um telefone celular com os quais se podem realizar videochamadas; isso lhes chegou em uma encomenda que lhe enviou…

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A luz na janela

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Corre a cortina e abre as persianas, os raios de luz atravessam o pó no quarto. Marcelino mora em um edifício antigo, descuidado pelos donos que têm como inquilinos a migrantes latino-americanos indocumentados, por isso não se preocupam em fazer as reparações obrigatórias.  Por mais que limpe, o pó se acumula, como as baratas e as formigas. Marcelino aluga um estúdio, um quarto pequeno onde tem um fogão, uma geladeira pequena e o banheiro, mal tem espaço para se mexer. Depois de morar 12 anos em um apartamento com mais 8 migrantes, se…

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As andas de Cecilia

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Cecilia nunca imaginou que depois de trabalhar em uma maquila em sua natal Puerto Lempira, Gracias a Dios, Honduras, chegaria a trabalhar pintando casas nos Estados Unidos. Ele não aterrizou em restaurantes de comida rápida, tampouco em trabalhos de manutenção, a esperava o rubro da construção e da jardinagem.  Embora em seu país de origem as mulheres que carregam a família nas costas estão acostumadas a realizar tarefas que pelo gênero lhe corresponderia aos homens, o novo para ela fui subir em umas andas para pintar o céu das casas. Quando emigrou lhe…

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O frio na diáspora

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Campestre sempre quis comprar umas botas de inverno, mas sua economia é tão precária apesar de seus três trabalhos. As imagina, se vê com as botas postas cobrindo seus pés das temperaturas abaixo de zero. A roupa de inverno é cara e as botas muito mais, ter roupa de inverno é uma opulência para um migrante indocumentado como Campestre, de 76 anos, sem direitos trabalhistas.  Quisera uma chumpa[1]  e umas luvas forradas, também uma calça, a roupa que usa para trabalhar não o ajuda com o frio, é a mesma roupa de verão. Então…

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Outros horizontes

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Escuta ao longe o alarme do relógio despertador, vira para ver, são as três e trinta da madrugada, se levanto meio dormido e caminha para o banheiro, desde a noite anterior deixou a cubeta cheia com água para não ter que ir a essa hora a tirá-la do tonel que está no quintal. Em um saco tem quatro mudas de roupa, tira uma que passou na noite anterior e se apronta para o entregador de pão que não tarda em chegar.  Em uma das bocas do fogãozinho de mesa põe os feijões para…

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O rei Pelé 

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul As gerações mais jovens acreditam que o futebol foi inventado há dez anos e que os campos sintéticos ou gramados sempre estiveram ali, igual que a proximidade e a superexposição nas redes sociais que tudo magnificam a favor das grandes empresas da exploração informática e de máfias que rodeiam o futebol. Daí que acreditam com investimentos milionários em propaganda a cada dez anos a jogadores estrela que lhes servirão para a venda de camisetas, audiência televisiva e entradas aos estádios. Impondo-lhes assim um ídolo às massas mundiais que são tão manipuláveis.  Além de…

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Na hora do sereno

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Às três da madrugada já têm preparadas os maços de cenouras, beterrabas e rábanos. Lavaram na noite anterior, conseguem os legumes mais baratos quando os camponeses os arrancam de suas semeaduras e os entregam diretamente. Este ano também se aventuraram a comprar cocos para o ponche das festas de fim de ano, embora para consegui-los têm que viajar desde Chimaltenango até Escuintla ou às vezes até Suchitepéquez o que representa um gasto extra e muito forte para sua economia tão frágil.  Os pais de Ixmucané conseguiram comprar um lugar dentro do mercado, depois…

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