Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul
Begoña se envolve em um cobertor que pega na poltrona da sala e desce as escadas do edifício, mora no terceiro andar. Liga o carro e volta ao seu apartamento, põe quatro colheradas de café na cafeteira e duas xícaras de água, quando o café está pronto vai banhar-se com água fria para terminar de despertar, o relógio marca as três e quinze da madrugada. É sábado, começo de primavera, no restaurante a esperam às quatro em ponto.
Prende o cabelo ainda molhado em um rabo de cavalo, veste o uniforme correndo, põe o café em um copo, pega a sua bolsa e abre a porta do apartamento com cuidado para não despertar os vizinhos, tranca a porta em silêncio e desce as escadas do edifício, sente o ar frio da madrugada na artrite das mãos, entra no carro e vai. No caminho ajeita uma toalha enrugada que tem em um buraco na frente por onde entra o vento frio que dá nos seus pés.
Entra no edifício onde trabalha, desce ao porão onde passa as próximas 16 horas junto a outros indocumentados picando verduras e empacotando comida, sai às 8 da noite. Perdeu o primeiro dia de sol da primavera e perderá os do verão e do outono como perdeu os últimos 14 anos de sua vida desde que chegou aos Estados Unidos.
14 anos nos que seus três filhos a esperam em sua cidade natal, Santa Ana de Yusguare, Choluteca, Honduras.
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Ilka Oliva-Corado @ilkaolivacorado