O valor das remessas

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul

Conheceu o salmão em Nova York quando o viu cozido em bandejas na deli do supermercado. Doze dólares o pedaço de meia libra. Doze dólares, perguntou-se o que podia fazer com doze dólares em sua natal Todos Santos Cuchumatán, Huehuetenango, Guatemala; sem dúvida alimentar sua família por pelo menos por três dias. 

Em Todos Santos Cuchumatán, Clementino trabalhou desde a adolescência no cemitério, primeiro de ajudante de seu tio onde aprendeu a fazer bicos por aqui e por lá; dias de coveiro, outros de pedreiro, dias de manutenção e dias de pintor de brocha grande e de pincel pequeno. 

Aprendeu de memória a bandeira dos Estados Unidos quando começaram a chegar os corpos de migrantes que morriam naquele país e que o haviam adotado como sua segunda pátria, gente que estava tão agradecida com o sustento que pediu que em seu túmulo pintassem a bandeira dos Estados Unidos junto com a da Guatemala. Pedidos expressos de paisagens das urbes estadunidenses e das montanhas de Todos Santos Cuchumatán.  

Desde O Norte chegavam os dólares para construir grande panteões para famílias completas; a Clementino lhe impressionava o luxo daqueles que se haviam ido com uma mão na frente e outra atrás. Seguro que nos Estados Unidos lhes ia muito bem para desperdiçar assim o dinheiro, pensou. 

Grande parte do povoado havia migrado, quando Clementino alcançou a maioria da idade e onde antes havia casas de adobe começaram a construir casas de blocos de três andares e espaço amplo para estacionar os carros usados que chegavam rodados pela fronteira entre o México e a Guatemala. Os jovens se emocionavam ao ver aquela fortuna e começaram a emigrar em massa, entre eles também Clementino foi embora, prometendo à sua família o envio de remessas semanais para a construção da casa de blocos com estacionamento grande para os carros que enviaria. 

Assim como foi que se topou em Nova York com aldeias completas que imaginou que ia encontrar vivendo na opulência, como demonstravam as remessas para construir os panteões e as casas de três andares. Mas para sua surpresa estavam amontoados em edifícios localizados nas zonas mais pobres da cidade, com três e quatro famílias alugando um apartamento de um quarto. Encontrou quadrilhas de trabalhadores vivendo em porões das casas de outros guatemaltecos que lhes alugavam de favor. 

A maioria viajando de trem porque não tinham carro, que também como ele um dia se perguntaram o que podiam fazer na Guatemala com os doze dólares que valia a meia libra de salmão no deli do supermercado. 

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Ilka Oliva-Corado @ilkaolivacorado

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