Geleia de romã

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Desperta, observa o relógio, são quatro e vinte e dois da madrugada. Abraça os lençóis e se estira na cama, levanta-se e põe a água para ferver para o café. Escova os dentes e enquanto a água ferve, Cecilio se assoma à janela, do outro lado uma escuridão espessa, que logo dará passo ao amanhecer, lhe recorda que são os últimos dias do verão.   Logo terá que guardar a roupa de verão e começar a ventilar a de inverno que ao terminar a estação guardará um sacos plásticos e para que não tenham…

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As espigas arejando-se

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Cada vez que pode, Perfecto lhe conta ao que vai encontrando no seu caminho que há muitos anos tem sua família nos Estados Unidos e que arranjou documentação a todos seus filhos, que até netos lhe nasceram no Norte. Mas a verdade é outra, a realidade de Perfecto é como de milhares de indocumentados, lhe dá vergonha dizer que não tem documentos e o medo à deportação o faz mentir constantemente sobre sua vida no país.  Emigrou há mais de trinta anos, ainda na adolescência. Em sua primeira noite no Norte a angústia…

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Os sonhos de Bertita

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Pelas manhãs, Bertita e sua mãe racham lenha na casa dos vizinhos que contratam seus serviços, regularmente adultos mais velhos que ficaram sozinhos poque seus filhos foram para o Norte. Bertita de vinte anos amarra no chale a sua filha de um ano e a acomoda nas costas, seus outros dois filhos de cinco e de sete são os que se encarregam de acomodar a lenha para não deixar os montões espalhados. Quando lhes vai bem logram que incluam almoço no pagamento. Umas tortilhas que molham no caldo de ervas, em um prato…

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O sorriso de Martina

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul A primeira vez que Arnold bateu nela foi em sua primeira noite dormindo juntos. Martina fugiu com ele porque sua família queria mandá-la viver na casa da sua tia Dominga na capital, para tirar o folgado que a andava rondando, assim chamava o seu pai a Arnold, “o folgado sem ofício”. Sua mãe, que havia crescido arreando vacas e fazendo tortas para toda a família e que quando se casou lhe tocou o mesmo ofício, lhe disse que não pensasse em casar até que se graduasse em algo que ia tirá-la de andar…

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Refresco de carambola

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Nos primeiros anos, Filomena anotava em espanhol em uma livreta e com um tradutor inglês-espanhol traduzia a lista para comprar no supermercado, tudo para comida kosher. Em sua natal Sibaná, El Asintal, Retalhuleu, Guatemala, jamais ouvir falar da religião judaica e muito menos de comida kosher, foi em Chicago em seu primeiro trabalho que descobriu esse mundo de alimentos e rituais tão estranhos.  Ao princípio lhe pareciam manhas de gringos, como a dos evangélicos com seus alto-falantes a todo o volume em sua aldeia nos domingos de culto e o montão de “cucuruchos” [1]bem…

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Um raminho de hortelã

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Às onze e meia da manhã, Jacinta sentiu o cheiro da hortelã fresca depois da chuva e o de uns raminhos de coentro recém cortados envolvidos em uma tortilha recém saída do fogo, a sensação do suco de tomate escorrendo-se pelas comissuras dos lábios fez com que sentisse mais saudade da sua natal Olopa, Chiquimula, Guatemala e dos anos de sua infância em que a família estava unida.  É um dia caloroso de princípios de maio, coisa rara, porque o verão aterriza em junho com sua canícula e as chuvas torrenciais; o calor…

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De sol a sol

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Francisco tem a sorte de trabalhar de segunda a domingo sem importar o clima. Assim conta à sua mãe em sua natal Morazán, El Salvador, cada vez que a chama por telefone. O trabalho é duro, mas não tão diferente à jornada no campo em seu país natal, onde cresceu arando a terra com uma junta de bois.  Quando lhe disseram de ir para O Norte, não pensou duas vezes, disso já faz trinta anos. Deixou os cerros e os rios para ir morar em uma cidade de arranha-céus, para trabalhar no porão…

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