O rei Pelé 

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul

As gerações mais jovens acreditam que o futebol foi inventado há dez anos e que os campos sintéticos ou gramados sempre estiveram ali, igual que a proximidade e a superexposição nas redes sociais que tudo magnificam a favor das grandes empresas da exploração informática e de máfias que rodeiam o futebol. Daí que acreditam com investimentos milionários em propaganda a cada dez anos a jogadores estrela que lhes servirão para a venda de camisetas, audiência televisiva e entradas aos estádios. Impondo-lhes assim um ídolo às massas mundiais que são tão manipuláveis. 

Além de tudo isso está Pelé, que jogou com pedra como bola, em campos enlodados e sem regulamentos de futebol renovados ano a ano que facilitem cada vez mais o desenvolvimento do jogo para o único fim de ser um espetáculo além do esporte e do espírito do jogo limpo. 

Muitos poderão estar contra isso, mas essas opiniões não tiram de Pelé o fato de ser o maior jogador de futebol de todos os tempos havidos e por haver. Por que? Simples, ele as inventou todas, por onde o vejam, por onde raspem, Pelé as inventou todas. Tudo o que veio depois no futebol é sua escola, são os meninos aprendendo do mestre. Pelé foi quem abriu os caminhos, não só para os futebolistas brasileiros, mas sim para os latino-americanos, é o que pôs o Brasil e a América Latina no mapa do futebol mundial. Graças a Pelé o futebol latino-americano existe no futebol mundial. 

Sua beleza estética, seu talento e disciplina. Seu jogo bonito, a magia de amortizar a bola acariciando-a com as coxas, sem golpeá-la, porque aprendeu quando era menino treinando com mangas maduras que lhe dava seu pai, sem sapatos, devido à pobreza extrema em que viviam. Devido a essa luta contra o impossível pelas circunstâncias de seu entorno, sua técnica é impecável porque a fez o sacrifício e a fome, a necessidade e o amor à paixão maior de todas, o futebol, anseio que não lhe pode arrebatar a exclusão social. 

O grande fazedor, o mago, a negritude do Brasil, a dignidade da favela. Os que nascemos de quarenta anos para cá perdemos de ver em ação o maior jogador da história e nos impuseram a qualquer um que chute uma bola como ídolo. Somos tão manipuláveis até como espectadores. Mas a história não mente, nos vídeos que se guardam de Pelé em ação pode-se observar a imensidade de sua grandeza, de seu talento, de sua beleza, de sua índole como esportista. De seu respeito ao opositor, ao campo, ao futebol. Sua defesa do jogo limpo.  

Pelé é atemporal, passarão e passarão falsos ídolos que quando as máfias que rodeiam o futebol os abandonem serão esquecidos, mas Pelé seguirá reinando porque com ele inventou-se a verdadeiro futebol. Ele é o futebol, o jogo bonito que tanto orgulha o Brasil e todos o invejam. E o mais importante de tudo, é um jogador exemplar para os meninos e as meninas que queiram praticar esse esporte. Esse é seu verdadeiro legado, ser semente para as gerações que vêm pelo caminho e isso só ele pode ser. 

Pelé é dessa geração que não voltaremos a ver, porque com ele quebrou-se o molde. Fica seu legado como luz e senda embelezando a favela e os arrabaldes do mundo inteiro. Louvor à sua majestade o Rei Pelé por haver dignificado a periferia latino-americana com sua negritude tão sui generis própria da herança da Mãe África. 

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Ilka Oliva-Corado @ilkaolivacorado

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