Pandemia é oportunidade para notar punhaladas cometidas por governos neoliberais

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul

Sempre são os mais vulneráveis que pagam o pato. Esta pandemia uma vez mais dá a oportunidade para que os povos abram os olhos e notem uma a uma as punhaladas que estão sendo dadas pelos governos neoliberais de seus países. Salvar as oligarquias sempre foi sua finalidade além de saquear o Estado, o que quer dizer, o bolso do povo. Nada se soluciona orando, é a ciência junto aos recursos humanos e materiais os que devem estar à disposição da sociedade neste momento; qualquer mandatário que diga à população que como solução se encomende a Deus, além de ser um cretino e de estar brincando com a vida das pessoas, está se burlando da inteligência natural de todo ser humano.

Na América Latina temos muitos desses monstros, horrorosos por traidores e descarados, por gritões e idiotas. Por ver os povos em necessidade e dar as costas para se pôr à disposição da corrupção e das máfias. Esta pandemia levará a muitos das capas baixas da sociedade, porque o rico nunca perde, mas essas mesmas capaz baixas devem ter a memória para não esquecer e ficar em pé quando isso passe para fazer uma mudança desde abaixo, desde a raiz. Esse mal deve ser arrancado pela raiz. Não se pode propagar mais a burla, o saque, o racismo, a impunidade, a homofobia, o machismo, a miséria, que se propaga a partir dos governos latino-americanos. 

Os povos que conformam a Pátria Grande têm a força necessária para fazê-lo, só necessitam decidir-se, armar-se de coragem; que a cólera da exploração, da humilhação e da burla os indigne para levantar-se em rebelião. Se falamos de uma nova ordem mundial, que essa ordem seja posta pelo povos e não pelas oligarquias. Já chega de abaixar a cara e pôr o lombo. Que a erradicação do neoliberalismo seja o triunfo diante do abuso das grandes máfias. Já é tempo do povo tomar o poder, dirigir seu próprio caminho, que seja dono de suas terras e do que produzem. 

Não virá outra oportunidade mais extraordinária do que esta. É tempo de guardar a energia, por aqueles que hoje não podem guardar a quarentena porque têm que sair para buscar o pão, porque nenhum governo responde por eles. Pelos que se rompem fazendo pão, plantando vegetais e frutas, colhendo-os, aos que os transportam e vendem para que os mercados nesses momentos não estejam desabastecidos, para que a população tenha como se alimentar.  Já se aplaudiu grandemente os médicos que atenderam dia e noite em hospitais e centros de saúde, é tempo de pensar nas enfermeiras porque elas têm o triplo de trabalho dos médicos e sempre têm sido relegadas pela sociedade. De agradecer ao pessoal de limpeza que sempre foi visto somente como os que limpam os banheiros. Mas não dizer a eles somente obrigado, mas fazer mudanças de raiz para que seus direitos trabalhistas sejam outros, os justos. 

Já que se aplaudiu os médicos por seu esforço, esse sacrifício dá uma noção mínima, mas dá, de como fica as costas do diarista que trabalha a terra; se aos médicos se aplaude, aos que trabalham no campo há que beijar-lhe os pés e as mãos, mas não só isso, fazer mudanças de raiz para que seu esforço seja remunerado como corresponde e não sejam mais explorados. A mesma coisa com as empregadas domésticas; a grande maioria não pode ir às suas casas para a quarentena, porque a classe média e a burguesia não podiam passar sem elas, porque podem cair as mãos das madames se lavarem um prato ou recolherem a caca do cachorro.  

Claro que há uma missão depois de tudo isto: o novo mundo. E esse novo mundo, com novas leis nas constituições, tem que chegar com direitos humanos e benefícios trabalhistas para os imprescindíveis. Os povos já foram levados como gado ao matadouro durante séculos, é tempo de rebelar-se. Há muito por mudar e por fazer. Construir escolas, hospitais, centros de saúde, universidades. Eliminar os exércitos e criar campos recreativos. Porque a nova ordem mundial não pode ser imposta por eles, tem que ser organizada pelos povos e isso só é possível com a revolução cultural. Há muito por fazer. Estão levando embora os minérios latino-americanos em troca de um centavo, eles devem ficar na América Latina. O livre mercado só funciona para as oligarquias. Os povos necessitam outro modelo de desenvolvimento. O da unidade, da solidariedade, o do humanismo. 

Há que guardar a energia, porque têm que desaparecer os bordeis e os bares para que nenhuma menina, adolescente e mulher torne a ser explorada sexualmente. Porque se tem que dar urgentemente o direito ao aborto, livre, legal e gratuito para que nenhuma mulher seja encarcerada por tomar decisões sobre seu próprio corpo e morra no intento por sua pobreza.  As endinheiradas o fazem por privilégio de classe. Há que reajustar as molas latino-americanos e isso é trabalho da classe operária, pois nenhum privilegiado sabe o que arde a cara ao passar doze e quatorze horas ao sol carregando blocos destruindo as mãos, engraxando sapatos, recolhendo lixo, carregando pacotes, trabalhando a terra. Não sabe o que é não ver a luz do dia em uma maquila. 

Há muito por fazer quando isto passe, agora estão engasgando, firmando convênios, vendendo terras a torto e a direito, saqueando o Estado, mas chegará o tempo dos povos; nesse tempo temos que sair armados de valor apesar do medo e com a coragem e o amor que só têm aqueles que sabem o que custa ganhar o pão com o suor do seu rosto sendo humilhados noite e dia. É por isso que a mudança deve ser de raiz.

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Ilka Oliva Corado @ilkaolivacorado

09 de abril de 2020

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