Folhas de arruda

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul

Jerusa caminha em volta do quarteirão enquanto desfruta os amarelos dos girassóis que adornam as cercas das casas. Em agosto, quando o calor de verão estadunidense faz arrebentar as pétalas silvestres e começa a temperar o pasto semeado nos canteiros, o aroma das flores de lavanda faz com que os últimos dias da estação sejam inesquecíveis em sua formosura. É então que florescem os girassóis e Jerusa esquece momentaneamente de todas as suas dores.

Come melancia, também mirtilos e pêssegos. Faz salada de abacate com alfavaca e limão, prepara limonada com hortelã. Para o chá que tomará no inverno, põe para secar as folhas de arruda, cuja muda conseguiu pegar depois de muitas tentativas – já sobreviveu a três invernos e renasce galante na primavera, quando florescem as cerejeiras e as últimas tulipas despedem a neve e o gelo negro da estação.

Só em agosto, quando cantam as últimas cigarras e os folhas dos bordos começam a mudar de cor, Jerusa esquece momentaneamente que é indocumentada e que não pôde enterrar suas três filhas que morreram de sede tentando cruzar o deserto de Sonora para reunir-se com ela, no país que lhes disseram que todos os sonhos se tornam realidade.

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Ilka Oliva-Corado @ilkaolivacorado

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