Folhas de arruda

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Jerusa caminha em volta do quarteirão enquanto desfruta os amarelos dos girassóis que adornam as cercas das casas. Em agosto, quando o calor de verão estadunidense faz arrebentar as pétalas silvestres e começa a temperar o pasto semeado nos canteiros, o aroma das flores de lavanda faz com que os últimos dias da estação sejam inesquecíveis em sua formosura. É então que florescem os girassóis e Jerusa esquece momentaneamente de todas as suas dores. Come melancia, também mirtilos e pêssegos. Faz salada de abacate com alfavaca e limão, prepara limonada com hortelã. Para…

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A ameixa

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Guillermina deixa os sacos do supermercado sobre a mesa e com urgência tira uma ameixa, lava-a e lhe dá uma mordida, o suco escorre pela comissura dos lábios.Fecha os olhos e saboreia lentamente sua doçura enquanto agradece às mãos que a cuidaram desde que a semente da árvore foi plantada. Desde criança seus avós camponeses a ensinaram a agradecer o trabalho que realizam aqueles que cultivam a terra. Originária de Parramos, Chimaltenango, Guatemala, quando chegou aos Estados Unidos não falava mais que seu idioma materno, o cakchiquel. Palavras de espanhol, uma por aqui…

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A casca de pinheiro

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Valerio trabalha há trinta e sete anos nos campos de cultivo da Califórnia, conhece como a palma de suas mãos os de uvas, ameixas, morangos, mangas, coentro, rábano e aipo. Tem o corpo moído e a alma rôta, como a maioria dos migrantes indocumentados no país.  É tarahumara, originário de Chihuahua, México, mas se reconhece sempre como rarámuri. Quando emigrou, já estava começando a tala ilegal de árvores da Serra Tarahumara e aumentavam os campos de cultivo de maconha e papoula que tomavam grande parte da Serra Madre Ocidental entre Chihuahua, Durango, Sonora…

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O gole de um novo dia

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Justina limpa quartos de hotel, vinte e dois por dia, às vezes vinte e cinco, dependendo se falta alguma companheira de trabalho. Seu turno começa às cinco da manhã e termina às sete da noite, catorze horas no total. De segunda a sexta. Aos sábados e domingos lhe alugam o espaço de um metro quadrado em um supermercado mexicano por vinte e cinco dólares por dia; aí vende mantas que borda nas noites em que não pode dormir, que são muitas. Isso ajuda para a gasolina. De quarta a sábado, Justina trabalha em…

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A tristeza de Cecílio

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Cecílio prepara uma xícara de café enquanto aquece dois tamalitos de feijão no microondas; da mochila que leva para o trabalho tira um potezinho de vaselina e unta um pouco na gema dos dedos, os tem rachados e sangram de tanto cortar cerejas todo o dia no trabalho. No supermercado mexicano que fica perto de onde mora, compra unguentos para a dor nas costas; ganha seis dólares por bote que quando cheio pesa quinze libras. Ele pendura um no pescoço e outro na cintura para conseguir ganhar doze dólares em cada volta;…

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