As horas de sol

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Cayetana acende o fogão e começa a esquentar a comida que meterá nos recipientes para seu almoço, são as quatro da manhã. Enche com água cinco garrafas plásticas de um litro e meio que são as que tomará em seu dia de trabalho. Em sua lancheira meteu um pacote de tortilhas quentes que envolveu em papel alumínio e amarrou em dois sacos plásticos. Revisa para ver se não esqueceu de nada: o recipiente de arroz, os ovos mexidos, os feijões fritos e as tortilhas. Põe as joelheiras, duas calças, dois suéteres, casaco…

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O trabalho de Silvestre

Tradução do Ana Corbisier, Revista Diálogos do Sul Quando acende a máquina de cortar grama, Silvestre se sente como tendo subido em um trator porque é uma máquina industrial; em toda sua vida nunca tinha subido em uma máquina assim, mas nos Estados Unidos teve que fazer trabalhos que não tiveram nada a ver com seu trabalho de professor padeiro em sua Nayarit natal. Trabalha como jardineiro, é encarregado de uma máquina industrial devido aos 20 anos que tem de experiência; os novos são postos a soprar a grama cortada com umas máquinas que se penduram nos ombros e a cortar…

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As sandálias de Tana

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Observa os gemas de seus dedos rachados pelo uso de tanto produto químico; suas mãos que trabalharam a terra limpa há 24 anos restaurantes e centro comerciais; originária de Camotán, Chiquimula, Guatemala, Tana deixou sua vestimenta indígena, da etnia maya ch’orti’ e pôs uma calça de lona, uma camiseta, um tênis e emigrou junto a outras 15 moças de sua comunidade. Seu povoado, corredor seco, deixou de ser há décadas a terra fértil que alimentava as raízes das plantas; sem água e sem comida tanto Tana como centenas de povoadores se viram…

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A sombra da rama de urucum 

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Aos 7 anos, Cándido emigrou à capital com mais cinco primos; um tio os levou para que começassem a trabalhar e ajudassem com os gastos da casa; nas madrugadas o ajudam com sua venda de sucos de laranja, atol e pães com feijão que arma perto da passarela da avenida Bolívar, durante o dia trabalham em um lava carros e nas noites o ajudam com a venda de espigas de milho cozido que vende em cestas perto da passarela do Aguilar Batres e do periférico, para aproveitar a saída dos alunos da Universidade…

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O retorno de Yeyo e dos netos de Papayo

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Yeyo cresceu vendo como seu pai sofria de dor nas costas de tanto carregar sobre os ombros cachos de banana nos dias infernais do trópico em Chiapas e sua mãe encher-se de queimaduras nos braços fritando batatas para vender fora da fazenda. Trabalhadores de mil ofícios, fizeram malabarismos para conseguir sobreviver como indocumentados em Tapachula, México; sempre em trabalhos precários, mal pagos e sem benefícios sociais, percorreram o estado do direito e do avesso e sempre foi o mesmo tratamento e pagamento. Por temporadas trabalharam no corte de café, pelo lado do…

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O eco do canto dos galos

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul Agarra seu filho Yeyo, o enrola na manta e o põe nas costas. Sobre a mesa coloca duas mudas de roupa, seu pente, os talcos do menino, um pote de creme para a cara, um par de sapatos com as solas rotas – que pensa que as pode mandar consertar quando chegar – um envelope com fotografias e uns pedaços de camisetas que transformou em fraldas. Em uma manta põe um saco com um punhado de sal, uns biscoitos que assou de manhã e o último pedaço de queijo que lhe resta. Uma…

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O anseio de Catalino Sixto

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul São as 11 de noite, são 16 horas entre o lixo, montanhas e montanhas de lixo, buscando cobre, vidro, papelão e plástico. Quando têm sorte encontram bolacha e guloseimas empacotadas, as comem de um bocado, embora muitas vezes se intoxicaram, mas a necessidade pode mais, é a vida dos catadores de lixo, pensa Catalino Sixto que também ouviu dizer o mesmo por seus pais e os vizinhos da comunidade onde vivem. Tem as mãos e os pés cheios de cicatrizes de cortes que fez com pedaços de vidros quando busca material para vender.…

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