Nos EUA, europeus jamais realizariam trabalho que fazem os indocumentados nas construções

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul

Não têm contrato, lhes dão trabalho só de palavra e lhes pagam o que o empregador quiser. São os que mais trabalham e os que menos dinheiro geram. São os latino-americanos que trabalham na construção nos Estados Unidos. Seus corpos são de meninos, de adolescentes recém desenvolvidos, a pele grudada nos ossos, de estatura baixa e até um pouco frágeis se olhamos bem.

Chegam em magotes para trabalhar nos tetos das casas em construção, como pontos finos se vêm à distância das alturas. Mas são inquebrantáveis os homenzinhos de lombo duro; quando menos esperam os demais deixam de estar de joelhos e se põe em pé.

Como os que colocam os carpetes no chão, metros e metros de carpetes. Estes homens que em sua maioria são indígenas saídos do campo latino-americano e trocaram o trabalho da terra pelo da construção pesada. Porque nos Estados Unidos ficou para trás a peneira, o cinzel, a colher e a espátula, entre a fumaceira da industrialização as ferramentas mudaram e os lombos dos migrantes indocumentados latino-americanos são os que carregam as grandes tábuas e os pacotes de telhas artificiais que adornam os tetos das casas quando o braço robótico da grua não alcança. 

Os empregadores que podem ser estadunidenses, anglo-saxões, latinos com documentos, europeus, asiáticos ou negros endinheirados, jamais levantam o peso que carregam os lombos dos homenzinhos.  Em construção, os lombos fornidos dos trabalhadores europeus, galantes, bem nutridos jamais realizam o trabalham que fazem os indocumentados latino-americanos. 

Entre o sol abrasador do meio dia se lhes vê trabalhando nas estradas em construção, nas temperaturas abaixo de zero no inverno, nos horários da madrugada, aí estão os homenzinhos latino-americanos fazendo o trabalho mais pesado porque a maquinaria, o braço robótico, a grua, o caminhão de carga, tudo isso é manejado pelo europeu, pelo anglo-saxão, pelo latino nascido no país; o latino migrante é o que se lança entre os esgotos para desentupi-los, é o que faz o sulco, o que tira a terra, o que carrega o balde cheio de cimento fresco. De estatura parecem meninos ao lado dos anglo-saxões e dos europeus, dos afro bem fornidos que jamais serão relegados ao trabalho do indocumentados. 

Saíram do campo latino-americano para trepar nos tetos dos arranha-céus, para colar paredes de elevadores, para cortar lâminas de vidro, para carregar pedaços de árvores que adornam os jardins das mansões. Para meter-se até o pescoço nos esgotos das estradas, dos restaurantes e desentupir banheiros nos estádios. Pequenos, insignificantes em estatura nesse país de homens altos e fornidos. Eles como os povos originários deste país, têm a estatura milenar e a força e a resistência milenar, que parecem não cansar nunca porque nunca descansam, trabalham de segunda a domingo até três turnos. 

Pelo trabalho que realizam poderiam ganhar o duplo ou o triplo do que ganham seus companheiros europeus ou afros, mas isso não acontece. E com regularidade o que mais se aproveita desse lombo curtido é o latino que já conseguiu ter seus documentos, ou o latino nascido no país que é prepotente igual ou pior do que o que já tem documentos. E não digamos se é originário do mesmo país, do mesmo departamento ou do mesmo povoado. E se é família esse lombo se descasca com sal e limão e esse espírito é humilhado até que perca totalmente as esperanças. 

Mas são inquebrantáveis os homenzinhos de lombo duro; quando menos esperam os demais deixam de estar de joelhos e se põe em pé, não importa se ficaram ajoelhados a metade de suas vidas, um dia conseguem levantar-se e caminham com a dignidade, fortaleza e resistência milenar de seus ancestrais. 

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Ilka Oliva Corado @ilkaolivacorado

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