Rabanetes… Sigo plantando por essa bobagem de manter a raiz camponesa dos meus avós

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul

Ontem de manhã colhi meus primeiros rabanetes. Dava gosto mordê-los. Tive que colher antes do tempo porque os bichinhos já estavam começando a comê-los. No primeiro ano que eu plantei, estava feliz da vida vendo crescer aquelas folhas grandotas, mas quando fui colher não havia nada embaixo; não sei como a planta pode sustentar as folhas e os talos durante tanto tempo se os bichinhos tinham comido os rabanetes, sobrou só um para mim, mas era grandão! Esse dia eu chorei de tanto dar risada com minhas folhas e um rabanete na mão, porque os bichinhos tinham me enganado…

E assim é todos os anos, uma espécie de jogo para ver quem ganha: se os bichinhos comem primeiro ou eu colho os rabanetes antes. Minha chacrinha alugada é pequena, mas eu sigo plantando por essa bobagem de manter a raiz camponesa dos meus avós, maternos e paternos.

Planto no estilo de Jutiapa, em sulcos. Há sulco de pimentas de vários tipos, de tomate, de beterraba, de pepino, de melancia, de muitas coisas. É mais pelo gosto… quem me dera que todas as sementes germinassem e aquilo fosse uma festa de frutos de todas as cores. Mas o clima não ajuda muito, vivo em uma cidade na qual o verão aparece quando lhe dá na telha e vai embora quando quer… Pretextos quer a vida…

A chacrinha fica em um lugar não tão estratégico e recebe muita sombra de uma árvore, é o que tenho e se faz o que se pode. O que se consiga colher é bem-vindo… Mas o processo de preparar à terra é fascinante, fazer os sulcos e plantar. Depois ir até lá todos os dias ver com gosto as sementes germinando, as folhas molhadas quando se rega. Também as dores de cabeça tratando de tirar os passarinhos que se metem não sei como e não conseguem sair da cerca contra aves e veados.

Onde eu vivo há muitos veados, então tenho que manter a chacrinha cercada. Mas os que fazem das suas durante todo o tempo são os esquilos e uns parentes dos esquilos que chamam de esquilos listados.

Às vezes no final do verão acabo por colher três tomates e duas pimentas, porque tudo o mais foi desfrutado pelos bichos, mas está tudo bem, eles também necessitam comer.

Este ano plantei feijão e foi o primeiro que comeram. Depois foram os rabanetes. Me disseram que plantasse alho ao redor porque não gostam do cheiro, mas eles arrancaram tudo, os condenados. Três vezes voltei a plantar até que me dei por vencida; eles ganharam.

Os dois anos que a chacrinha deu frutos por atacado foi quando sem querer plantei um pé de erva cidreira no meio e ele cresceu muito; me disseram que os bichinhos não gostam do cheiro e então não chegaram muito perto. Este ano eu o transplantei, então eles entram e saem e levam o que querem, me recordam minha infância, quando íamos com os moleques a colher frutas nas fazendas da aldeia e nos espantavam com facões. 

Nós estávamos bem à vontade em cima das árvores quando chegavam os donos com o facão nas mãos; nós pulávamos dessa altura e pernas pra que te quero… correr sem parar até chegar em casa, sem uma fruta, que tínhamos jogado todas pelo caminho, com o tornozelos pingando sangue de tanta cerca de arame farpado que havíamos saltado e nem tínhamos percebido.

Então, quem sou eu para brigar com os bichinhos porque se metem na minha horta e ferram os dentes em tudo o que encontram plantado? Pelo contrário, me divertem porque são engraçados e engenhosos. 

Hoje almoçarei folhas de rabanete. 

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Ilka Oliva Corado @ilkaolivacorado

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