Traições, falta de escrúpulos e farsas: Vivemos imersos em um mundo de vanglórias

Tradução: Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul

Acreditamos que somos os seres evoluídos do universo, mas é o contrário: somos o retrocesso constante e a perda

Vivemos em um mundo de vanglórias, onde são premiados os mais ruins, aqueles que traem, quem não tem escrúpulos, quem pisa em alguém para alcançar objetivos próprios. Em um mundo de farsas, onde a única coisa real é a burla. Esse é o mundo que criamos e alimentamos todos os dias com nossas ações ou passividades; estas dependem do que nos convenha segundo soprem os ventos em nossa bolha de indiferença e egolatria.  

Um mundo de falta de respeito ao outro e a todo ser vivente. Somos sociedades de indivíduos descartáveis e espantalhos. Indivíduos que perderam toda a integridade, que a venderam em troca do efêmero que dura o mesmo que um pontapé na bunda. Estamos feitos de autodestruição, uma humanidade que dia a dia se empenha em sua luta por desaparecer; não sem antes carregar tudo o que encontra à sua passagem, tudo o que não lhe pertence, mas de que se apropriou descaradamente acreditando-se dono e, pior que isso, patrão!

E com essa premissa andamos pela vida acreditando que outros nos devem homenagens e que devem se arrastar diante de nós para dar-lhes o que por direito lhes corresponde; mas necessitamos que se humilhem para que nos vejam lá em cima, nessa altura onde qualquer um pode cair com o sopro de uma brisa.

E pensamos ingenuamente que o que nos faz maiores é um sobrenome, um título, um posto de trabalho, uma marca de roupa ou uma loção. E quando em realidade o que nos faz grandes, o que nos cria, o que nos converte em seres humanos é nossa capacidade para sentir a dor do outro, para ver com os olhos do outros, calçar os sapatos do outro. O que nos converte em seres humanos são nossas ações diante da injustiça, da burla, da deslealdade e da opressão, da avareza de uns poucos que acreditando ser patrões da Pátria pisam nos direitos de milhares.

No fundo do abismo já estamos como humanidade e se não tivermos a capacidade de reagir e pensar como coletivo.

Acreditamos que somos os seres evoluídos do universo, mas é o contrário: somos o retrocesso constante e a perda. Acreditamos que lastimando outros estaremos a salvo, que a dor nunca nos tocará, que nunca teremos a sede de outros, e que nossas deslealdades, nossas traições, nossas egolatrias serão suficientes para não cair nunca no fundo desse abismo que tanto tememos: o da pobreza e da miséria no qual obrigamos milhares a viver.

No fundo do abismo já estamos como humanidade e se não tivermos a capacidade de reagir e pensar como coletivo, dando conteúdo à nossa existência e unificando critérios, propostas, ações, acabaremos na autodestruição definitiva. E não haverá títulos, nem loções, nem postos de trabalho, nem pretensão alguma que possa nos resgatar.

É comum vermos as faltas dos outros e covardemente esconder as nossas; deveríamos talvez começar por nós mesmos com esse exercício tão simples de olhar-nos no espelho e conversar com nossa memória individual e coletiva sobre essa humanidade que se julga auto suficiente quando nem sequer pode respirar por si mesma.

Oxalá algum dia aprendamos a ver-nos sem vestes e aprendamos da nossa fragilidade e inconsistência e, que não seja tarde nesta marcha sem retorno que empreendemos com nosso mundo de vanglórias. 

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Ilka Oliva Corado. @ilkaolivacorado

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