O germe do fascismo

Tradução do Eduardo Vasco, Diário Liberdade

Como um mal hereditário nas novas gerações se reproduz com facilidade porque são gerações desvalidas, deixadas à interpérie, carcomidas que, como bagaços, são lançadas às urnas, às ruas, à vida.

Infestadas desse gene que acaba com o cérebro em um piscar de olhos, essas gerações não conhecem as primaveras, viveram hibernando em quartos escuros desde sempre, não conhecem o calor do sol nem a alegria do canto das aves, são incapazes de sentir algo que esteja fora da margem de seu radar de fascistas. Inclusive não sabem o que são, porque carecem de raciocínio.

Essas gerações são como pacotes empilhados que os operários do mundo carregam e descarregam de seus ombros, como blocos de cimento, como quintais de ferro que formam colunas em que segue cimentando o germe do fascismo. Não têm vida, não cheiram o aroma das flores e não sentem a dor do outro e muito menos seu próprio fedor.

Estruturalmente o fascismo está nas aulas escolares, como ferrugem nas paredes, na linguagem do docente, nos livros de universidade, na mensagem subliminar dos anúncios televisivos, na fila de espera de um hospital público, nas mãos do médico. Estruturalmente está no arquiteto que desenha mansões nas colinas, na sentença de um juiz, nas decisões da Corte Suprema de Justiça, nas barras de um cárcere, nos corredores de um centro de detenção para menores.

Está nos direitos negados, nas árvores que se arrancam para que jamais volte a primavera e as gerações que são alimentadas pelo germe do fascismo sigam hibernando em quartos escuros. Uma desnutrição que cria seres humanos insensíveis, egoístas, preguiçosos, machistas, racistas, homofóbicos, arrogantes e conservadores que, na menor oportunidade, tratar de eliminar quem representar um perigo para seu cativeiro e tente abrir as portas desses quartos escuros e lhes mostre o frescor do vento, o calor do sol e a neblina das madrugadas.

A quem se atreva a lhes mostrar as cores do arco-íris, das árvores no outono, a vibração das mariposas, a suave brisa do mar. O palpitar de um coração feliz, o sorriso das crianças, a quem lhes convide a sentir os abraços curadores dos avós.

Por tal, sempre estão os desadaptados, os loucos, os sonhadores. Por sorte sempre estão os atrevidos, os bobos, os imprudentes que se lançam de cabeça ao vazio sem recurso algum mais que o de um coração livre. Sâo eles os que milenarmente têm nutrido a resistência, e é a resistência a que segue embelezando as primaveras.

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Ilka Oliva Corado @ilkaolivacorado

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