Uma primavera de milhões de Lulas

Tradução do Eduardo Vasco, Diário Liberdade 

Em 1958 foi descoberta, quase por acaso e em sua própria casa, a cronista e poeta da favela, Carolina Maria de Jesus, que se encarregou de retratar seu dia a dia em seu diário: a vida nas favelas do Brasil. Uma realidade crua, de miséria, de abuso, de exclusão, e uma realidade também de sonhos, de lealdade e de amor puro. Muito pouco conhecida na América Latina, Carolina Maria de Jesus traduziu em suas letras a essência dos subúrbios brasileiros, os mesmos que em fervente amor têm saído às ruas para defender um operário que os dignificou e lhes devolveu a voz e o poder dos sonhos: Lula.

Para entender o coração da periferia é preciso viver suas carências, seus prantos, suas frustrações e suas ilusões. Lula vem daí, do esquecimento, da exploração, da carícia das mãos calejadas que contam histórias de poesias que se escrevem no vento, do lugar onde nascem as quimeras mais sublimes que a América Latina pariu.

O amor do povo brasileiro para com Lula não é de hoje, esse amor tem a raiz das árvores que embelezam a Amazônia, o frescor do Rio Paraná e a inocência das crias de pés descalços que jogam futebol nas quebradas. A vida das mulheres que constroem e transformam o Brasil que enche de orgulho a herança afrodescendente latino-americana.

Essa realidade dos subúrbios que soube retratar à perfeição Maria de Jesus mudou quando Lula e Dilma foram presidentes, a favela se converteu no seio de uma luta de classes, no bastião de uma revolução cultural que segue apostando na transformação do Brasil, a favela então passou a ser protagonista de sua própria metamorfose e é imparável, a primavera no Brasil é impostergável, nada nem ninguém poderá detê-la: os campos florescerão como as flores das dez com o orvalho da alvorada, ainda que nas ruas chovam metralhas.

As montanhas farão eco dos riachos de águas serpentinas que buscam se encontrar com o mar despertado, com o oceano fecundo, para voltar ao litoral onde caminham milhares de Lulas, que descem as ruas das favelas para fazer do Brasil a primavera de uma América Latina que busca seu próprio alvedrio.

Lula se encontra nos braços bronzeados dos que cortam cana de sol a sol, no lombo partido dos que carregam pacotes nos mercados, nas mãos rachadas dos pedreiros, na palavra dos jornaleiros. Nas mãos criadoras dos artistas de rua.

Lula se encontra no doce das mangas tropicais, na sombra das palmeiras e na água dos cocos, nos caminhos lamacentos dos campos abertos, no alto das colinas, no fio do facão do camponês, na neblina das tardes de domingo. No canto das aves, nas conchas de carvalho, nas mãozinhas das meninas que aprendem a escrever. Lula se encontra em cada letra da poesia de Carolina Maria de Jesus. Nas gargantas férteis da juventude que sai às ruas gritar da boca do vulcão, anunciando enfurecida, a chegada da primavera.

Lula se encontra nas veias dos párias, veias que fazem da América Latina um imenso rio amazônico que nutre povos inteiros, povos que vêm caminhando, descalços, bailando com batucadas, em busca da reverdecente primavera que os espera com a beleza das flores no botão.

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Ilka Oliva Corado

10 de abril de 2018

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